Detesto dirigir!!!
Nunca quis ter um carro, moto, mobilete, biga, nave espacial ou qualquer outro veículo que eu tenha que guiar, o que me obriga a utilizar o transporte coletivo para chegar aos lugares que quero/preciso ir. Para muitos isto é um fardo, mas prefiro curtir um engarrafamento devidamente acomodado em um dos assentos de um ônibus a estar ao volante de um carro tendo todo o trabalho de acionar simultâneamente 384 mecanismos para fazer o carro andar 39 centímetros e parar novamente até que o trânsito volte a se mover por mais alguns centímetros.
Há algum tempo eu trabalhava em Madureira, e morando no Meier dependia única e exclusivamente dos ônibus da ESPETACULAR linha 667, quem conhece sabe que eles são como o Cometa Halley: aparecem a cada 76 anos e passam direto pelo ponto, por este motivo em muitas ocasiões me vi obrigado a frequentar os bancos apertados das Kombis que faziam o mesmo trajeto, foi em uma dessas viajens que conheci o potencial bélico que um simples creme de pentear pode ter.
Era verão, por volta de 08:00 da manhã , embora o céu estivesse nublado fazia muuuuito calor naquele dia, como de costume entrei na Kombi e me acomodei como pude no banco de trás entre uma senhora magrinha e baixinha que portava uma criança com nariz escorrendo em seu colo e um senhor com um forte cheiro de cigarros, acentuado pelo calor que fazia. No banco da frente iam duas senhoras, um rapaz, e havia um lugar vago, que não ocupei porque não queria ir até meu destino abrindo e fechando a porta da Kombi para que os passageiros embarcassem e desembarcassem.
Quando chegamos a rua Clarimundo de Melo uma moça fez sinal, era bastante gorda, e vestia roupas muito adequadas ao formato rechonchudo de seu corpo (me refiro a uma micro saia da Pixação e um top laranja onde ela depositava, além dos seios, o celular, a carteira, um maço de Free Light e uma daquelas toalhas de rosto que são moda na baixada) além disso lhe faltava um dos dentes, o canino direito mas precisamente e em sua cabeça residia um cabelo difícil, porém muito bem domado, fato que me intrigou.
A criatura sentou-se na única vaga que havia, justamente bem a minha frente e pude notar que de seus cabelos escorria uma substância viscosa parecida com o sêmem dos alces das florestas do Canadá, neste mesmo instante a Kombi começou a andar, fazendo com que o vento entrasse pelas janelas e atingisse as madeixas besuntadas da moça trazendo em minha direção o odor mais repugnante que já senti em toda a minha vida (e olha que eu já estive em cada lugar...), instantaneamente meus olhos começaram a lacrimejar, depois a arder, comecei a ter dificuldade para ordenar meus pensamentos, estava me faltando o ar, reparei que o Sr. Cinzeiro que estava ao meu lado também foi acometido pelo mesmo mal a senhora da criança, que também portava sua toalinha, deu uma de Joana Prado na época da Feiticeira, pendurou a toalha nas orelhas e tratou de tapar nariz e boca, eu por minha vez me defendia daquele inferno como podia, buscava pedaços da minha camisa onde o cheiro do meu perfume estivesse mais forte, comecei a sentir vontade de vomitar, o cheiro de azedo tomou conta da Kombi, todos resmungavam e se entreolhavam como que dizendo: Tá sentindo também??? O martírio durou pouco, uns 15 minutos, ela desceu em Cascadura toda rebolativa cantando um dos sucessos dos Travessos, a Sra ao meu lado tirou a toalha do rosto com cautela e diagnosticou: É Kolene essa merda, a pessoa começa a suar fica com cheiro de cachorro molhado, Kolene é foda!
KOLENE + SUOR = INFERNO